Tuesday, April 05, 2005
É demais!!!
Não aguento mais ver as noticias!! Em todas as televisões só aparece a morte do Papa e todas as considerações e análises possíveis e imaginárias sobre essa questão.
Desde a semana passada que deixou de acontecer algo de importante no país e no mundo. O mundo parou? Não aconteceu nada? É que pura e simplesmente deixou de haver noticias que não sejam sobre o Papa. É demais!!...
Isto não tem só a ver com o Papa. Tem a ver, isso sim, e é assustador, com a nossa condição de rebanho que sucumbe e se deixa guiar, ora para um lado, ora para outro, por forças que manipulam a nossa vontade e os nossos sentimentos, que nos orientam e nos guiam e que assumem as mais requintadas subtilezas, tornando-se por isso mesmo, muitas vezes, invísiveis ao imediato do nosso olhar.
Esta condição de rebanho que tudo aceita sem questionar, esta visão massificada, uniformizada do mundo, esta manipulação que nos converte em seres sem espírito crítico e livres, que nos rouba o ideal da diferença e nos oferece uma ideologia já pronta, criada pela própria televisão e pelos mecanismos de massa que a animam.
A liberdade de pensar foi-nos confiscada, o nivelamento do discurso e da acção são prática dominante. Tornamo-nos numa coisa, cada vez mais objecto de interesse sensacionalista.
Não podemos continuar a aceitar tudo, num conformismo cínico e individualista.
Ainda a questão do Papa.
Não há lugar a vozes dissonantes. O discurso assume um tom sacro-santo que todos utilizam. Morreu o Papa! Todos se apressam a aparecer. Convém também dizer algo, de preferência, que não comprometa, mesmo que em tempos, se tenha discordado vivamente das suas posições. Mas agora não é hora! Até concordo. O Papa morreu, faz-se o elogio à sua figura e papel que desempenhou neste século dos média. Sim, porque sem os média, não haveria este corropio de gente a querer ficar 5 horas numa fila, à espera, para assistir a um banho de multidão. Este é portanto um Papa super star. Os media mostram a figura, criam a estrela e a consequência são os bandos de fãs por todo o planeta.
Esta histeria colectiva foi criada pelos media. Sem duvida! E o povo, e os seus governantes que precisam do povo, com a lavagem cerebral bem feita, corresponde e faz, em uníssono, aquilo que é pedido. Pensa a uma só voz, sem duvidar, sem questionar, sem reclamar. Por todo o planeta. E o show começa...
E se de repente alguém pensa:
Mas o Papa ... teve um papel importante na defesa da paz, na aproximação entre os povos ( não será esta já a função da Igreja?...); teve esse e outros méritos, concordo e elogio, mas...
- teve uma posição anti esquerda, notório na condenação da teologia da libertação
- teve uma posição anti-feminista, assente na exaltação da virtudes femininas da subjugação e do cuidado, em vez de permitir e impulsionar a igualdade de direitos
- um discurso assente na ilicitude moral do uso dos contraceptivos
- um discurso anti-preservativo em tempos de sida e dirigido a países, muitos com 1/3 da população infectada
- um discurso homofóbico, assente na negação da cidadania plena aos homossexuais
um medo da modernidade e das culturas onde a liberdade sexual e reprodutiva é respeitada
- o combate ao divórcio
- a preocupação em impedir o acesso das mulheres ao sacerdócio
- o apelo às mulheres bósnias violadas e grávidas dos invasores, que não abortassem
- o horror à contracepção, ao aborto, à homossexualidade, ao divórcio, ao planeamento familiar, à sida, o combate ao preservativo, o horror à emancipação da mulher, a condenação da atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago e tantos mais exemplos...
...?
Não se pode dizer isto? "Isto" deixou de existir? É que são questões do nosso tempo. E não podem ser tratadas por uma moral de conteudo reaccionário...
Desde a semana passada que deixou de acontecer algo de importante no país e no mundo. O mundo parou? Não aconteceu nada? É que pura e simplesmente deixou de haver noticias que não sejam sobre o Papa. É demais!!...
Isto não tem só a ver com o Papa. Tem a ver, isso sim, e é assustador, com a nossa condição de rebanho que sucumbe e se deixa guiar, ora para um lado, ora para outro, por forças que manipulam a nossa vontade e os nossos sentimentos, que nos orientam e nos guiam e que assumem as mais requintadas subtilezas, tornando-se por isso mesmo, muitas vezes, invísiveis ao imediato do nosso olhar.
Esta condição de rebanho que tudo aceita sem questionar, esta visão massificada, uniformizada do mundo, esta manipulação que nos converte em seres sem espírito crítico e livres, que nos rouba o ideal da diferença e nos oferece uma ideologia já pronta, criada pela própria televisão e pelos mecanismos de massa que a animam.
A liberdade de pensar foi-nos confiscada, o nivelamento do discurso e da acção são prática dominante. Tornamo-nos numa coisa, cada vez mais objecto de interesse sensacionalista.
Não podemos continuar a aceitar tudo, num conformismo cínico e individualista.
Ainda a questão do Papa.
Não há lugar a vozes dissonantes. O discurso assume um tom sacro-santo que todos utilizam. Morreu o Papa! Todos se apressam a aparecer. Convém também dizer algo, de preferência, que não comprometa, mesmo que em tempos, se tenha discordado vivamente das suas posições. Mas agora não é hora! Até concordo. O Papa morreu, faz-se o elogio à sua figura e papel que desempenhou neste século dos média. Sim, porque sem os média, não haveria este corropio de gente a querer ficar 5 horas numa fila, à espera, para assistir a um banho de multidão. Este é portanto um Papa super star. Os media mostram a figura, criam a estrela e a consequência são os bandos de fãs por todo o planeta.
Esta histeria colectiva foi criada pelos media. Sem duvida! E o povo, e os seus governantes que precisam do povo, com a lavagem cerebral bem feita, corresponde e faz, em uníssono, aquilo que é pedido. Pensa a uma só voz, sem duvidar, sem questionar, sem reclamar. Por todo o planeta. E o show começa...
E se de repente alguém pensa:
Mas o Papa ... teve um papel importante na defesa da paz, na aproximação entre os povos ( não será esta já a função da Igreja?...); teve esse e outros méritos, concordo e elogio, mas...
- teve uma posição anti esquerda, notório na condenação da teologia da libertação
- teve uma posição anti-feminista, assente na exaltação da virtudes femininas da subjugação e do cuidado, em vez de permitir e impulsionar a igualdade de direitos
- um discurso assente na ilicitude moral do uso dos contraceptivos
- um discurso anti-preservativo em tempos de sida e dirigido a países, muitos com 1/3 da população infectada
- um discurso homofóbico, assente na negação da cidadania plena aos homossexuais
um medo da modernidade e das culturas onde a liberdade sexual e reprodutiva é respeitada
- o combate ao divórcio
- a preocupação em impedir o acesso das mulheres ao sacerdócio
- o apelo às mulheres bósnias violadas e grávidas dos invasores, que não abortassem
- o horror à contracepção, ao aborto, à homossexualidade, ao divórcio, ao planeamento familiar, à sida, o combate ao preservativo, o horror à emancipação da mulher, a condenação da atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago e tantos mais exemplos...
...?
Não se pode dizer isto? "Isto" deixou de existir? É que são questões do nosso tempo. E não podem ser tratadas por uma moral de conteudo reaccionário...